Como escolher entre Simples, Lucro Presumido e Lucro Real para seu pet shop 

Como escolher entre Simples, Lucro Presumido e Lucro Real para seu pet shop 

Gerir um pet shop envolve decisões do dia a dia — desde compra de ração até o atendimento do banho e tosa. Mas uma escolha que pode devorar sua margem é o regime tributário. Errar aqui significa pagar imposto demais, perder competitividade e criar dor de cabeça com o fisco. Este guia explica, em linguagem acessível e com exemplos aplicáveis ao segmento pet, quando e por que optar por Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real em 2025.

Vou mostrar:

  • o perfil de negócio que casa com cada regime;

  • como as receitas de produtos (venda) e serviços (banho/tosa, estética) influenciam a decisão;

  • exemplos numéricos simples;

  • um checklist prático para você decidir junto ao seu contador.

Vamos começar pelo básico.


1. Panorama rápido: os três regimes (o essencial que todo dono de pet shop precisa saber)

Existem três regimes principais para tributação das empresas no Brasil:

  • Simples Nacional — regime simplificado, com cobrança unificada mensal de tributos federais, estaduais e municipais; muito usado por micro e pequenas empresas. É a opção mais comum para pet shops menores.

  • Lucro Presumido — regime em que a base para IRPJ e CSLL é calculada aplicando-se um percentual (presunção) sobre a receita bruta; costuma ser vantajoso quando a margem efetiva do negócio é superior à presunção adotada pelo fisco.

  • Lucro Real — regime em que IRPJ e CSLL são calculados sobre o lucro contábil ajustado; indicado para empresas com margens baixas, prejuízo ou grande volume de despesas dedutíveis.

Esses regimes têm regras de enquadramento (limites de faturamento, obrigatoriedades) e efeitos práticos distintos sobre impostos, obrigações acessórias e fluxo de caixa.


2. Primeira decisão: quanto seu pet shop fatura hoje e qual seu mix (produto x serviço)?

Antes de mais nada: mapear o faturamento e dividir as receitas em venda de produtos (ração, acessórios, medicamentos, pet shopshop online) e serviços (banho e tosa, estética, adestramento, hospedagem). Por quê?

  • O Simples Nacional tributa por anexos distintos dependendo da atividade (comércio, indústria, serviços); a participação relativa de produtos e serviços afeta a alíquota efetiva.

  • No Lucro Presumido, a presunção aplicada sobre a receita varia conforme a atividade — por exemplo, comércio tem presunção diferente de serviços.

Exercício rápido: pegue os últimos 12 meses e calcule:

  • Receita total anual;

  • % vinda de produtos (ex.: 65%);

  • % vinda de serviços (ex.: 35%).

Esse simples mapa já orienta a próxima etapa.


3. Simples Nacional: quando tende a ser a melhor escolha para pet shops

Perfil que costuma se beneficiar do Simples

  • Faturamento anual dentro do limite do Simples (até o teto aplicável para optar — para micro e pequenas empresas; se for MEI, existe teto específico), com estrutura operacional enxuta.

  • Mistura de venda de produtos e serviços, sem margem muito alta em produtos.

  • Desejo por simplicidade administrativa (guia única — DAS — que reúne tributos).

Por que funciona bem para pet shops menores

  • O Simples concentra tributos (IRPJ, CSLL, PIS/COFINS, IPI em alguns casos, INSS patronal, ICMS e ISS) em uma única guia, com alíquota que varia conforme faturamento e anexo. Para muitos pet shops a praticidade e a previsibilidade compensam eventuais diferenças de carga tributária.

Atenção com o anexo certo

No Simples, o enquadramento em anexos define alíquotas e progressão. Atividades comerciais (venda de produtos) costumam ficar em anexos com alíquotas iniciais mais baixas do que alguns serviços. Se sua operação é majoritariamente serviços, o Fator R (relação entre folha e receita) pode influenciar positivamente a alíquota — empresas com folha proporcionalmente alta podem migrar para anexos mais favoráveis. Portanto, separar receitas é essencial para aproveitar corretamente o Simples.

Vantagens e riscos práticos

  • Vantagens: menor burocracia, guias unificadas, fácil previsão de caixa, ideal para quem não quer complexidade tributária.

  • Riscos: se o negócio cresce (faturamento sobe ou margem de produtos é alta), pode ficar caro comparado a Lucro Presumido. Além disso, erro na classificação de receitas pode elevar alíquotas sem necessidade.


4. Lucro Presumido: quando vale a pena para um pet shop

O que é Lucro Presumido, em linguagem simples

No Lucro Presumido, o fisco presume que parte da receita é lucro e aplica IRPJ e CSLL sobre essa base presumida; os percentuais variam por atividade (comércio, serviços, etc.). Além disso, há PIS/COFINS cumulativos e ISS/ICMS conforme natureza. É obrigatório para empresas com faturamento abaixo do limite legal (em 2025, o limite para optar pelo Lucro Presumido está em patamares altos — consulte seu contador; alguns textos indicam limite de até R$78 milhões para opção).

Quando um pet shop se beneficia do Presumido

  • Alta participação de venda de produtos com margem elevada: se sua margem líquida real for maior que a presunção aplicada pelo fisco, o Presumido pode sair mais barato.

  • Folha de pagamento reduzida: se você tem poucos funcionários e, portanto, não tira vantagem do Fator R (Simples), o Presumido pode reduzir o total de impostos.

  • Capacidade de pagar tributos trimestralmente (IRPJ/CSLL são pagos trimestralmente no Presumido).

Exemplo prático (simplificado)

Imagine um pet shop com R$ 1.200.000 de faturamento anual (R$100.000/mês) e alta margem em produtos:

  • No Presumido, para comércio, a presunção de IRPJ/CSLL pode ser pequena (ex.: 8% para IRPJ/CSLL dependendo da atividade — porcentuais ilustrativos; consulte seu contador). Se sua margem efetiva for 25%, a base presumida pode ser inferior à margem real, gerando imposto menor.

  • Já no Simples, dependendo do anexo e faixa, a alíquota conjunta pode ficar acima do custo do Presumido.

Conclusão prática: simule com números reais dos últimos 12 meses antes de decidir. Pequenas diferenças percentuais podem representar milhares de reais anuais.


5. Lucro Real: quando é a opção correta para pet shops

O que é Lucro Real (em poucas palavras)

No Lucro Real, IRPJ e CSLL incidem sobre o lucro efetivamente apurado (lucro contábil ajustado por adições e exclusões previstas na legislação). Empresas com margens baixas, prejuízo fiscal ou com muitas despesas dedutíveis costumam optar por esse regime.

Quando um pet shop precisa considerar Lucro Real

  • Margens muito baixas ou operações com altos custos variáveis (ex.: grandes investimentos em estrutura, hospedagem com altos custos fixos).

  • Empresas com passivos fiscais que precisam de apuração precisa para compensações.

  • Obrigatoriedade legal: alguns setores (instituições financeiras, etc.) não podem optar por Presumido e ficam obrigados ao Real; para pet shop isso raramente ocorre, mas a obrigatoriedade pode surgir se a empresa ultrapassar certos limites ou tiver particularidades.

Desvantagens práticas

  • Burocracia maior: exige contabilidade completa, controles e ajustes, além de apuração mais complexa.

  • Maior custo contábil: escrituração detalhada e compliance aumentam custo fixo do serviço contábil.

  • Fluxo de caixa: tributos podem ser mais voláteis, pois dependem do lucro do período.

Quando o Real pode reduzir imposto

Se a empresa tiver prejuízo ou grande volume de despesas dedutíveis (ex.: depreciação pesada, despesas operacionais legítimas), pagar imposto sobre o lucro real pode ser muito mais barato do que pagar sobre uma presunção de lucro.


6. Fator R: a alavanca que muitos pet shops desconhecem

O Fator R é um mecanismo do Simples que pode mover a empresa entre anexos (e, portanto, alíquotas diferentes) com base na relação entre a folha salarial e a receita bruta. Para empresas que prestam serviços — como muitos pet shops que cobram por banho e tosa — uma folha mais representativa pode diminuir a alíquota efetiva.

Regra prática: calcular o Fator R (folha/receita) com os últimos 12 meses; se o resultado ultrapassar o limite definido, o negócio pode migrar para anexos com alíquotas menores.

Aviso importante: nunca infle a folha artificialmente; isso configura fraude. Porém, reconhecer adequadamente salários, encargos e pró-labore pode melhorar a posição tributária legítima do negócio.


7. Aspectos práticos e obrigações (o que muda no dia a dia dependendo do regime)

Simples Nacional

  • Apuração mensal com guia unificada (DAS).

  • Obrigações acessórias simplificadas (menos SPEDs, por exemplo).

  • Cuidado com faturamento máximo e com o correto enquadramento de atividades (CNAE).

Lucro Presumido

  • IRPJ/CSLL calculados trimestralmente; PIS/COFINS cumulativos.

  • Obrigações mais complexas (escrituração fiscal e contábil regular).

  • Maior controle sobre notas, estoques e CFOP.

Lucro Real

  • Apuração anual (com mensalizações) do IRPJ/CSLL com ajustes frequentes.

  • Obrigações intensas: ECF, EFD, e demais declarações dependendo da atividade.

  • Necessidade de contabilidade sólida e planejamento tributário contínuo.


8. Exemplo numérico completo (comparativo hipotético com números claros)

Contexto do pet shop hipotético

  • Receita anual: R$ 1.200.000 (R$ 100.000/mês)

  • Composição: 70% produtos (R$ 840.000) / 30% serviços (R$ 360.000)

  • Folha anual: R$ 240.000 (inclui salários, encargos)

  • Margem líquida média em produtos: 30%

  • Margem em serviços: 40%

Simulação simplificada (ilustrativa, sem taxas específicas por anexo):

  • Simples: alíquota média efetiva estimada 10% → tributos = R$ 120.000/ano

  • Lucro Presumido: presunção para comércio 8% + alíquotas IRPJ/CSLL e PIS/COFINS cumulativos → tributos aproximados = R$ 100.000/ano

  • Lucro Real: imposto sobre lucro contábil (com despesas dedutíveis grandes) → tributos aproximados variam; se lucro contábil for 20% (R$240k), tributo efetivo pode ser maior ou menor dependendo de ajustes.

Interpretação prática: neste cenário, o Lucro Presumido poderia ser mais vantajoso por causa da forte participação de produtos com boa margem. Mas tudo depende das alíquotas exatas e de créditos/deduções que o Real permitiria.

Conclusão: sempre rodar simulações com números reais e o contador.


9. Fatores que frequentemente mudam a decisão (e você precisa monitorar)

  1. Crescimento do faturamento: ultrapassar faixas do Simples ou aumentar as margens de produto pode fazer o Presumido mais atraente.

  2. Alterações legislativas/reforma tributária: mudanças na base de cálculo (CBS/IBS) ou em alíquotas podem alterar o cenário — acompanhe atualizações do Sebrae e Receita.

  3. Mudança no mix produto x serviço: aumentar serviços com equipe grande pode favorecer Simples com bom Fator R.

  4. Investimentos e despesas dedutíveis: grandes obras e investimentos podem tornar o Lucro Real vantajoso.

  5. Capacidade de compliance: se a contabilidade for fraca, talvez valha pagar um pouco mais para ficar no Simples e evitar riscos.


10. Checklist prático — como decidir em 8 passos simples

  1. Mapeie receitas reais dos últimos 12 meses (produto vs serviço).

  2. Calcule margem média por categoria (produto, serviço).

  3. Liste despesas dedutíveis e investimentos previstos (obras, equipamentos).

  4. Simule tributos (Simples, Presumido, Real) com seu contador usando números reais.

  5. Avalie impacto no fluxo de caixa (mensal e trimestral).

  6. Considere o custo da contabilidade e compliance (Real exige mais custo contábil).

  7. Verifique limites legais (MEI / Simples / Presumido) e regras vigentes.

  8. Decisão + plano de monitoramento (rever a escolha a cada 12 meses ou sempre que houver mudança de receita >20%).


11. Perguntas frequentes que donos de pet shop fazem (com respostas diretas)

P: Sou MEI vendendo rações e prestando banho — devo sair do MEI?
R: Depende do faturamento e das atividades permitidas pelo MEI. Se você ultrapassar o teto do MEI ou a atividade não for elegível, é hora de migrar para Microempresa (ME) no Simples ou avaliar Presumido. Consulte seu contador.

P: Posso misturar receitas no Simples sem problemas?
R: Pode, mas é crucial que sua contabilidade separe receitas por natureza para aplicar corretamente as alíquotas dos anexos. Não separar pode aumentar a alíquota efetiva.

P: Se eu tiver prejuízo, o Lucro Real é sempre melhor?
R: Geralmente sim — no Real o imposto incide sobre lucro efetivo. Se há prejuízo, não há IRPJ/CSLL sobre lucro, mas ainda existem outras obrigações e custos contábeis. Avalie caso a caso.

P: Quanto custa rodar as simulações e mudar de regime?
R: Depende do contador e da complexidade, mas é investimento pequeno perto do possível ganho anual. Simulações completas costumam pagar o custo em economia em meses.


12. Dicas avançadas de planejamento fiscal para pet shops (princípios seguros)

  • Mantenha livros e notas em dia: a base para qualquer escolha.

  • Separe receitas desde o PDV: configure seu sistema para classificar produto X serviço.

  • Reveja preços com base em impostos: inclua imposto e encargos na formação do preço.

  • Planeje contratações com visão Fator R: contrate quando fizer sentido, não só para reduzir imposto.

  • Considere reorganização societária só com aconselhamento: sociedades e holding têm impactos fiscais e trabalhistas.


13. Quando revisar a escolha (gatilhos para reavaliar o regime)

  • Crescimento de faturamento > 20% em 12 meses.

  • Mudança significativa no mix (mais vendas X mais serviços).

  • Abertura de nova unidade ou e-commerce.

  • Aumento da folha de pagamento que muda o Fator R.

  • Alterações na legislação tributária (reforma, novos decretos).


14. Ferramentas que facilitam a simulação e a gestão (tecnologia que seu contador vai agradecer)

  • ERP/PDV integrados: integração entre vendas e contabilidade para separar receita automaticamente.

  • Sistemas de gestão financeira: fluxo de caixa, projeção e conciliação bancária.

  • Softwares tributários: simuladores de regimes com parâmetros atualizados.

  • Planilhas auditáveis: para comparativos rápidos antes de rodar simulações formais.


15. Prática: um roteiro de ação em 30 dias

Se você está em dúvida, siga este roteiro:

  1. Dia 1–7: Reúna últimos 12 meses de receitas e despesas; classifique produto x serviço.

  2. Dia 8–14: Agende reunião com seu contador; peça simulações (Simples x Presumido x Real).

  3. Dia 15–21: Analise impacto no caixa (mensal/trimestral) e custos contábeis.

  4. Dia 22–30: Tome a decisão com plano de execução (mudança cadastral, comunicação com fornecedores, ajustes de preço).

Mudar de regime é uma decisão estratégica — mas evita surpresas se for baseada em números e não em achismos.

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Publicado por Cleiton Sousa
Contador | Especialista Contabilidade Fiscal e Direito Tributário

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